fofoca pela metade quase m@t4 escritora ✨kabookverso #004
Por que o autor é sempre o último a saber?
Nos meados de janeiro, enquanto organizava o ato 4 do Filhotinho (quando ele ainda era um livro único), levei um susto enorme com os eventos que se desenrolavam na história.
Era algo grande, poderoso e cheio de detalhes. Fiquei tão chocada e animada que parei tudo para reorganizar as coisas. No momento em que eu percebi que a história não caberia em um único volume, e que a trama havia crescido tanto que foi preciso transformar em uma duologia, houve um paradoxo criativo que me deixou inquieta e reflexiva: Eu sou uma escritora que acredita no poder de um bom roteiro. Eu gosto de planejar, gosto de estruturar, gosto de saber exatamente para onde a história está indo antes de começar o rascunho. Mas sabe o que é engraçado? Não há nada que eu faça que irá me imunizar de momentos em que minha própria narrativa me pega de surpresa.
Então por que escritores constroem universos inteiros, catalogam cada ser vivo que habita esse mundo, escrevem planos detalhados... e mesmo assim, quando algo incrível acontece, são os últimos a saber?
De repente, parecia que meus próprios personagens estavam tendo conversas secretas pelas minhas costas. Eu era o indivíduo excluído do grupinho de amigos que eu mesma criei. E, ao mesmo tempo, percebi algo ainda mais inquietante: talvez minha função como escritora não seja a de uma deusa onisciente que cria tudo do zero, mas sim a de uma exploradora que desvenda o que já está ali.
E, como toda exploradora, eu preciso aceitar que algumas descobertas vão surgir quando eu menos esperar —mesmo quando eu acredite que já conheça o terreno que estou pisando.
🔄 Escrever é escavar
Para escritores arquitetos com hiperfoco em estrutura de enredo, como eu, uma das minhas maiores dificuldades nessa fase de planejamento é justamente a imprevisibilidade. Você parece estar sempre a beira de um penhasco, prestes a cair, mesmo tendo a legítima certeza de estar bem seguro em suas cordas de segurança.
E o que mais me assusta é que nunca são grandes reviravoltas planejadas que me derrubam. Mas sim, os pequenos detalhes.
📖 Uma tatuagem sem importância.
📖 Uma claustrofobia mencionada em um diálogo casual.
📖 Uma irmã gêmea que, a princípio, era só um detalhe de fundo.
📖 Um pai autoritário que eu achei que ficaria em segundo plano.
Eles surgiram como pedaços aleatórios no meio da história. Mas, quando percebi, já haviam mudado absolutamente tudo no meu universo.
No entanto, por mais caótico que pareça, tem sido tão importante e enriquecedor abraçar essa imprevisibilidade. Na edição #002 eu falo justamente sobre como ideias inesperadas deixam tudo caótico, então se ainda não leu, dá uma olhadinha lá depois que terminar aqui.
No fim das contas, criar um universo não é sobre ter tudo sob controle — é sobre ter coragem para enfrentar o desconhecido.
Você constrói as regras, define os caminhos, estabelece os limites. Mas, quando percebe, está no meio de um grande deserto. De repente, um capítulo não é apenas mais uma parte da história. Ele é um pedaço do seu mundo que você ainda não explorou.
O nosso rei do horror, Stephen King em Sobre a Escrita: A Arte em Memórias, fala justamente disso, ao comparar o processo de escrever à escavação de fósseis. Ele acredita que as histórias já existem em um mundo pré-existente, e que o papel do escritor é desenterrá-las com cuidado, preservando-as o máximo possível.
Quando eu li Sobre a Escrita pela primeira vez (porque para mim esse é um desses livros que todo escritor fica relendo em pedaços porque a experiência muda a cada vez que você avança em sua carreira) não tinha percebido ainda como parecia tão óbvio que um autor não cria uma história do zero, ele a descobre. Escrever mais parece um trabalho incansável de investigação do que de criação.
E isso me fez pensar: quanto da nossa história já está ali, esperando que a gente a encontre?
🧠 Quando seu cérebro já sabia
Eu sempre enxerguei a escrita e a arte como todo, como uma atividade de intuição. Expandir um pensamento e uma ideia baseada em achismos até que encontre algo que faz sentido.
E isso se aprofunda justamente através de coisas que "surgem do nada". Embora me pareça meio vago dizer que algo aparentemente incrível e cheio de potencial veio de um absoluto e amplo "nada". Afinal, se a irmã gêmea da minha protagonista sempre existiu, então porque eu me desesperei ao me dar conta do grau de importância que elas teriam uma na vida da outra? Não era meio óbvio que algo grandioso assim viria à tona?
Claro, para certos detalhes como esse, um exército de conflitos e interesses surge rapidamente. Mas em detalhes como um arbusto de flores no meio da neve, o impacto do quão grandioso aquilo seria levou muito mais tempo para se construir.
Já aconteceu de eu reler um trecho antigo (oi, capítulo Um, tudo bom?) e eu perceber que, sem querer, já tinha deixado uma pista ali — como se a história tivesse escondido uma resposta que eu só fui entender meses depois. Isso significa que as histórias são mais espertas do que a gente? Claro que não. Mas talvez nosso cérebro já tivesse feito essas conexões muito antes de percebermos conscientemente. Afinal, a ciência já mostrou que nós continuamos processando informações mesmo quando não estamos ativamente focados nelas.
O que chamamos de "ideias que surgem do nada" pode, na verdade, ser nosso subconsciente conectando peças que já estavam lá, esperando pelo momento certo para emergir. Talvez seja por isso que tantas conexões incríveis surgem em nossa mente quando a gente deita a cabeça no travesseiro. Nosso cérebro entra em um estado onde o consciente e o subconsciente se comunicam de maneira mais fluida, permitindo que enxerguemos padrões, respostas e conexões que antes estavam escondidas.

🕵️♀️ Autora, vulgo testemunha ocular
Escrever às vezes parece uma investigação porque existem momentos em que eu me sinto mais uma detetive, tentando decifrar pistas que eu mesma deixei pelo caminho. No dia que fechei o Ato 4 do livro único, eu me senti exatamente assim.
Para quem ainda não sabe, minha duologia tem 4 protagonistas centrais (dois casais). E uma grande dificuldade que eu tive ao longo de todo 2024 foi unir o enredo deles para culminar numa coisa só. É claro que eu sabia que tudo era uma coisa só, mas o caminho para unir tudo estava tão difícil que testei todas as possibilidades possíveis.
Foram tantas as maneiras diferentes que tentei usar, que algumas chegavam a ser engraçadas de tão ilusórias. Obviamente, eu estava no meio de um processo investigativo tentando desvendar uma fofoca que tinha sido repassada para mim pela metade.
Até que finalmente, dia 07 de janeiro de 2025, uma conexão que eu não tinha planejado apareceu na minha frente. Uma das protagonistas soltou uma frase atualizando o mocinho sobre uma coisa e eu fiquei tão surpresa quanto vocês ficarão um dia. Por favor, guardem isso: no volume 2, a cena pré-clímax surgiu de uma fofoca.
E eu que vinha tropeçando em um monte de detalhes vagos, congelei ao olhar para a tela como uma testemunha ocular e só consegui dizer uma coisa:
"Não é possível que esses anos todos vocês tinham feito isso e eu não percebi”.

E foi assim que vivi um dos maiores plot twists da minha carreira de escritora há menos de um mês. E a sensação até agora é como se eu tivesse programado uma grande revelação para mim mesma lá no passado.
Eu ainda acho surreal que uma fofoca pela metade tenha sido a chave para desbloquear tudo o que eu estava tentando conectar há anos. Como se minha própria história estivesse segurando um grande segredo e só tivesse decidido me contar agora.
E no final das contas, talvez escrever seja isso mesmo. Nem sempre temos todas as respostas desde o início. Quase nunca sabemos qual peça do quebra-cabeça vai se encaixar primeiro. Às vezes, o enredo já sabe para onde está indo, e nós só precisamos acompanhá-lo.
Talvez seja por isso que, por mais que eu planeje, por mais que eu estruture, sempre existirá algo me esperando na curva, pronto para virar tudo de cabeça para baixo. Porque, no fim das contas, o autor é sempre o último a saber.
💡 Me conta nos comentários: você já teve alguma experiência escrevendo em que percebeu algo só depois? Vamos surtar juntos sobre como as histórias adoram pregar peças na gente!
🙏 A que céu estamos?
Se tem uma coisa que essa edição me ensinou, é que a escrita sempre encontra novas formas de rir da minha cara. E adivinhem quem flopou horrores em fevereiro? Vocês lembram que na última edição eu disse que não escrevi nada entre os dias 02 e 14 de fevereiro? Realmente, eu comecei o dia 01 de fevereiro totalmente inocente, achando que os próximos 28 dias seriam tão produtivos e duradouros quanto os últimos 85 dias de janeiro. Mas, mal sabia eu que:
📌 Começaria o mês lendo livros de fantasias enormes e não conseguia parar, nem quando era hora de escrever.
📌 Retomaria o capítulo Treze do filhotinho e travaria horrores no primeiro parágrafo por 15 dias. O motivo? Uma cena de escada de emergência.
Sim.
Uma.
Escada.
De.
Emergência.
Aparentemente, esse foi o maior vilão da minha carreira de escritora até agora.
📌 Agora, estou tentando lidar com isso:

E talvez, no fim das contas, esse seja a verdadeira essência da escrita: a gente nunca sabe como vai ser até que faça. A constância é o segredo para um ritmo mais fluido, mas fevereiro... bem, fevereiro decidiu que não seria sobre constância, e sim sobre caos.
Conversei com outras autoras e pelo menos duas delas confirmaram que fevereiro é sempre um mês desafiador para escritores. Isso me fez sentir um pouquinho menos culpada. Ainda assim, a sensação de fracasso é difícil de ignorar, mas estou tentando focar mais no presente e menos no que deixei de fazer (ou que ainda preciso fazer).
Mas tudo bem. Março já começou com outra energia, e eu prometo que vou manter vocês atualizados. Porque no fim, até os meses que dão errado ensinam alguma coisa — seja paciência, seja resiliência, seja que às vezes você só precisa aceitar o flop e seguir em frente. Afinal, nem sempre o céu está limpo para voar — mas isso não significa que a gente não possa continuar subindo.
Fala sério, o Brasil ganhou um Oscar, não tem como eu estar triste!
🚨 Zona de Spoiler: o filhotinho
E vamos para mais um trecho do Filhotinho. E se você caiu de paraquedas nessa News e não conhece esse quadro, é o momento em que trago uma pequena mostra do meu manuscrito!
— Só um segundo! — ela gritou, enfiando apressadamente a encadernação envelhecida e o cordão de prata que tinha o hábito de apertar entre os dedos dentro do buraco raso que havia improvisado quando se mudara para lá. O pequeno pingente, uma flor delicada que se abria com pétalas pontiagudas, refletiu a luz natural que vinha da pequena janela por um segundo antes de encaixar o piso no lugar.
Karine Leôncio (filhotinho, 1ª versão, capítulo 3)
Lembrando que se trata apenas de uma primeira versão e que sempre tirarei nomes de personagens ou lugares!
E eu amo o capítulo 3 porque é quando minhas mocinhas interagem pela primeira vez no livro. E a cena? TÃO boa. É um bate-boca que vocês vão amar acompanhar.
Vocês vão amar essas duas juntas. Elas passam por muita coisa até entenderem a amizade que estão construindo. Rolam muitos encontros e desencontros até que elas entendam a importância que uma têm na vida da outra. E se tem algo que o filhotinho nasceu para fazer, é bagunçar tudo antes de ajeitar.
💡 E vocês? O que acharam desse trechinho? Me contem nos comentários!
📚 Indicação da Edição
Em fevereiro li demais, e se tanta leitura rolou, resolvi trazer outra indicação incrível nessa edição! E a recomendação da vez é a leitura de As Cinzas e o Rei Maldito pelas Estrelas, o segundo volume da duologia Nascidos da Noite, da série Coroas de Nyaxia, de Carissa Broadbent.
🩸 O que esperar da leitura?
A série mergulha em um mundo sombrio onde sangue e poder ditam as regras, deuses são cruéis e alianças podem ser mortais.
No primeiro livro, A Serpente e Asas Feitas de Noite, conhecemos Oraya, uma humana criada entre vampiros, que ingressa no torneio mortal da Deusa Nyaxia para garantir sua imortalidade. Mas um certo guerreiro irreverente e letal, Raihn, torna-se tanto uma ameaça quanto uma tentação perigosa.
Já no segundo volume, As Cinzas e o Rei Maldito pelas Estrelas, Oraya se vê prisioneira em seu próprio reino, obrigada a navegar entre traições, guerras e um casamento forçado. O problema? O homem ao seu lado é o mesmo que destruiu tudo que ela conhecia — e também aquele a quem ela não consegue resistir.
Se você curte histórias com:
✔ Casamento forçado e romance inimigos a amantes
✔ Magia sombria e deuses impiedosos
✔ Tramas políticas cheias de intriga e vingança
✔ Cenas eletrizantes de batalha e traição
Então Nascidos da Noite definitivamente vai te prender do início ao fim!
🌙 A duologia já está disponível em português, e os próximos livros da série (a Duologia Nascidos das Sombras) ainda serão lançados no Brasil.
💡 E vocês? Já leram essa duologia? Me contem nos comentários o que vocês acharam!
Se tem uma coisa que essa edição me ensinou, é que a escrita está sempre esperando para nos surpreender. Às vezes, passamos meses (ou anos) planejando algo que, no fim, se revela de uma forma completamente diferente. Outras vezes, a resposta sempre esteve ali – só esperando a gente prestar atenção.
E, talvez, essa seja a verdadeira magia da coisa: aceitar que o processo nem sempre segue o nosso roteiro, mas que cada revelação inesperada faz parte dele.
Enquanto isso, eu sigo aqui – planejando, escrevendo e, inevitavelmente, sendo a última a saber de tudo.
Obrigada por me acompanharem nessa jornada! E fiquem atentos às pistas que suas próprias histórias podem estar deixando pelo caminho. 👀✍️
Nos vemos na edição #005, dia 18 de Março!! 🚀✨
Kah, eu tenho passado justamente por isso. Eu estou a 4 meses escrevendo meu livro. E a história me surpreendeu de um jeito, ao ponto de que terei que reescrever a sinopse e o prólogo. A minha personagem de revelou para mim de uma maneira que jamais imaginaria. A suas novas camadas expostas revelaram novos mundos e novas partes da história que a tornaram ainda mais intrigantes. A minha narrativa foi como um rio me levando a lugares que jamais pensei que pudesse chegar.
Amei a sua News dessa Terça-feira. Está simplesmente espectacular. Cada vez que leio mais seu filhotinho, fico com mais e mais vontade de lê-lo. Parabéns! Sou sua fã
A última vez que escrevi meu diário foi justamente falando sobre a minha última "revelação". Que foi simplesmente descobrir q dez dos meus 12 anos NÃO crio histórias dentro de um unico universo…, mas sim de 2 universos compartilhados! E eu só fui ter essa revelação, com 15 anos de idade! 🫠