a teimosia me salvou 🏃 kabookverso #006
ou as coisas que aprendi depois de 50 mil palavras de um manuscrito
No dia 27 de março de 2025 eu alcancei a meta de 50 mil palavras escritas do meu primeiro manuscrito. E depois de oito anos desenvolvendo essa história, o universo e os personagens, vi 2025 me tirar do limbo das 30 mil palavras que eu tinha alcançado em 2024, em apenas dois meses.
Chegar a um marco em um projeto que tem levado muito tempo e que passou por muitos altos e baixos, acaba tendo um gosto diferente do que a gente espera. A familiaridade e a proximidade com algo que você erroneamente romantizou a vida inteira, faz com que aquele acontecimento se torne menos empolgante do que você esperava. Inclusive, preciso preparar uma edição só sobre como eu romantizei as minhas conquistas a vida inteira e como isso fez com que elas parecessem menores do que realmente são, mas aí a gente deixa para uma próxima edição e para uma próxima sessão de terapia.
No entanto, é claro que eu comemorei este dia. O 27 de março de 2025 acabou se transformando numa noite de açaí em família, mas é claro que um evento como esse não poderia ficar só num pedido no ifood. Então eu resolvi sentar e fazer uma lista das coisas mais aleatórias que aprendi e que me ajudaram a avançar com a escrita para tornar este marco, algo mais especial ainda.

1. Primeiro você precisa entender o processo, para só depois confiar nele.
Uma das coisas que eu mais ouvi de amigos e profissionais da escrita era que eu deveria "confiar no processo.” Que não havia milagre. Que eu apenas sentar e escrever.
Essa é uma verdade absurda, realmente fazer o que deve ser feito é mais simples do que parece, mas a realidade do artista é sempre mais difícil e cheia de surpresas desagradáveis no caminho. Principalmente para escritores estreantes, que são como bebês descobrindo um mundo novo a cada dia.
No entanto, só vivendo o processo em si, entendi que ele é um organismo vivo, que se autorregula. Ele se corrige conforme anda, é autoajustável e vai se moldando conforme você avança. Você descobre os próprios erros no caminho e vai corrigindo seus métodos e forma de avançar, porque a bicicleta só não cai se você continua pedalando.
Quanto melhor você se torna, mais confiante você fica de que seu processo funciona. Depois de tantos tropeços, tentativas e ajustes silenciosos, você percebe que o processo não é uma fórmula, mas sim uma prática. E no fim das contas, é ele que te ensina a continuar, mesmo quando você duvida que vai conseguir.
2. Você PRECISA planejar. Mas calma.
Escrever é caminhar por uma cidade que você nunca conheceu simplesmente porque ainda está em construção. Mas isso não significa que você precisa construí-la inteira antes de aproveitá-la. A rota vai mudar? Com certeza. Então, sem um mínimo de direção, você corre o risco de dar voltas lindas e inúteis no meio do nada.
Então, depois de perceber que só tinha conseguido avançar na escrita porque dediquei um janeiro inteiro à minha escaleta, esta foi a verdadeira lição que aprendi:
Você também não precisa ficar presa ao planejamento o tempo todo. Afinal, escrever também é uma forma criativa e eficiente de conhecer sua estrutura. Mas não cometa a loucura de pegar a rodovia na via expressa, viu? Pegue uma via que permita retornos. Escreva um pouquinho e planeje. Travou no planejamento? Escreva o próximo capítulo.
Cheguei às 50 mil palavras, e quase a metade do livro, mas penso que minha escaleta nunca estará 100% pronta. Eu não sei tudo o que vai acontecer em todos os capítulos. Muita coisa mudou e ainda vai mudar no caminho, mas isso que é divertido: a escaleta é o empurrão para você sair do lugar e não a jornada inteira.
P.S.: A escaleta é um resumo de cada capítulo, uma sinopse mais detalhada do que vai acontecer. Tem conteúdos muito bons no tiktok e no youtube, no mundinho da escrita criativa que podem te ajudar a saber mais como desenvolvê-la melhor!
3. Um rascunho é só um ensaio da sua obra. Ou só uma invenção da sua cabeça e já está ótimo!
Essa é a terrível lição do desapego. Sim, INFELIZMENTE os perfeccionistas do chat vão querer abandonar esta edição porque vai parecer um crime literário. Mas é isso: o rascunho não é a obra. É só a primeira tentativa de ser corajoso o suficiente para começar.
Quando eu descobri que a V. E. Schwab escreve uma primeira versão de capítulo só com diálogos, minha mente explodiu. Essa mulher, dona de bestsellers de qualidade altíssima, simplesmente SABE que um rascunho é literalmente isso: para você rascunhar uma história.
Então, acredite quando eu digo que as 50 mil palavras do meu rascunho ainda estão bem longe de ser de fato as primeiras 50 mil palavras que você lerão algum dia. A maioria dos capítulos que fiz esse ano (as 20 mil palavras escritas até o momento) tem mais cara de manuscrito do que de texto revisado. E é para ser assim mesmo, está corretíssimo. Ninguém quer um livro perfeito agora e nem é o momento para isso. Seria estranho se tivéssemos, inclusive.
4. Bloqueio criativo não existe. E infelizmente a gente tem que aceitar isso.
É claro que existem dias em que a gente não consegue escrever. E tudo bem. Mas chamar isso de “bloqueio” cria uma fantasia de que há algo externo te impedindo, quando, na maioria das vezes, o que está travando é apenas absolutamente humano.
Às vezes você está cansada. Às vezes insegura. Às vezes só precisava de um bom sono e uma caminhada. Mas a escrita não some de você. Ela só fica muda quando estamos sobrecarregados.
O que existe é medo, exaustão e autocobrança. Bloqueio é um nome bonito pra tudo isso.
E claro, a técnica existe para protegê-lo de dias ruins e cansativos. Uma escritora com um capítulo estruturado com início meio e fim não quer guerra com ninguém.
5. Não é que você seja perfeccionista. Você é só inseguro.
Aceitar isso dói, mas liberta. A obsessão com a vírgula perfeita, com o adjetivo certo, com o parágrafo milimetricamente ritmado, tudo isso, muitas vezes, é só medo de ser lido. Medo de ser visto. Medo de não estar à altura da própria ideia.
E sim, dói perceber isso. Dói admitir que o seu padrão de exigência talvez não seja nobre, mas defensivo. Só que essa é a primeira porta pra finalmente desbravar a sua própria coragem.
Porque quando você escreve apesar da insegurança, quando aceita que talvez nunca se sinta “pronto”, mas escreve mesmo assim… é aí que a coisa começa a viver de verdade.
6. Os vícios são inevitáveis.
Você vai repetir palavras. Vai usar os mesmos tipos de cena. Vai ter um personagem que suspira demais. Isso não te torna um escritor ruim. Revisão existe pra corrigir isso.
Toda assinatura começa como um carimbo desajeitado e somente nas revisões seu estilo vai se revelar de fato. Não tente procurar uma voz perfeita no primeiro rascunho. Ela não está lá ainda, mas isso não significa que não esteja vindo. Ela aparece no segundo olhar, no terceiro corte, no silêncio entre as versões.
A dica que você deveria começar a seguir é: pare de tentar se parecer com alguém e comece a escrever como você. O resultado é muito recompensador e primoroso, mesmo na primeira versão. Seu diamante bruto estará lá e com o tempo você vai enxergá-lo.
7. A teimosia será sua maior arma. Se souber usá-la da maneira correta!
Haverão dias em que simplesmente sua ideia vai parecer ruim. Sessões de desânimo e episódios de síndrome do impostor estarão ali, sempre prontinhas para você experimentar.
E é justamente nesse dia que a teimosia vai fazer o que ninguém mais faz: te colocar de volta na cadeira, te fazer abrir o arquivo e empurrar mais uma linha pra frente.
Às vezes, o texto vai parecer ridículo e o capítulo, uma verdadeira bagunça. Cheguei a apelidar meu capítulo Dezoito de “canteiro de obras” de tão caótico que estava. Precisei de um sábado inteiro para rearranjá-lo
Mas a teimosia me salvou porque foi a única coisa que me sobrou quando todo o resto falhou. E é preciso aprender a usá-la como combustível, e não como peso. Não é arrogância insistir em algo que ninguém vê ainda. Escrever, no fim das contas, é isso: acreditar no que ainda não está pronto.
E ir até lá, um parágrafo por vez.
🙏 A que céu estamos?
Março foi, com certeza, um mês de transições importantes! Vocês lembram que, na última edição, eu compartilhei que tinha escrito quase 10 mil palavras entre os dias 1º e 15 de março?
Pois é… entre os dias 16 e 31, as coisas avançaram entre trancos e barrancos.
Do dia 19 ao 26, fiquei um pouco off da escrita, mas quando retomei no dia 26 de março, prometi a mim mesma que faria um bom trabalho com a última semana — e deu certo!
Ao todo, escrevi 17 mil palavras em março, tornando março de 2025 o mês em que mais escrevi na vida!
Mas Abril chegou…
E estou vivendo o paraíso da fase da escrita! No momento em que escrevo esta edição (04 de abril), abril já se tornou um dos melhores períodos criativos da minha jornada até agora. Estou empolgada com a história e, finalmente, estou vivenciando aquela obsessão saudável que todo autor sempre disse que precisava existir para que a escrita fluísse.
Wow. Experimentar isso é maravilhoso.
O caminho até aqui foi difícil, cheio de tropeços e dias em que a história parecia distante. Mas agora, tem sido divino. Escrever ainda é um trabalho cansativo, exaustivo, e às vezes desgastante (sim, continuo suando pra cada parágrafo). Mas o sabor que tem deixado ao longo dos dias… é primoroso. É isso que faz valer a pena.
Neste momento, estou começando o 20º capítulo da história e chegando a quase 60 mil palavras. Depois de reorganizar a escaleta pela milésima vez só essa semana, tudo leva a crer que o capítulo 23 vai marcar a segunda metade da história . Estou tão empolgada pra chegar lá!
A meta de abril acabou crescendo bastante...
Minha meta atual é de 40 mil palavras entre 1º e 30 de abril. Como comecei o mês com 54 mil palavras, a ideia é chegar a 95 mil até o fim do mês.

Mas a verdade? Estou deixando a meta aberta. Não quero me aprisionar em números, porque eu não escrevo todos os dias, embora esteja me organizando justamente para, sim, escrever quase todos os dias em abril e maio.
No entanto… chega de matemática. Vamos ao spoiler do filhotinho! ✨
🚨 Zona de Spoiler: O filhotinho
Sim, estamos de volta com um pedacinho do manuscrito — ou como gosto de chamar: o filhotinho. A cada capítulo escrito, percebo que essa história carrega muito mais fúria, perda e transformação do que imaginei no início. É estranho ver uma personagem passar por tanta dor e perceber que, em vez de quebrar, ela está se reconstruindo. O trecho abaixo ainda faz parte da primeira versão do manuscrito, mas já deixa claro o que está em jogo:
[…] Ela não sabia o nome e sequer tinha ideia do rosto que havia feito tudo aquilo. De quem havia decidido tê-la como inimigo. Mas quando descobrisse, devolveria cada milímetro de dor.
Centímetro por centímetro.
Pele por pele.
Carne por carne.
Até que só restasse ossos para enterrar e pisar em cima.
Capitulo 18, primeira versão - Karine Leôncio
Aparentemente, temos alguém ferida demais para perdoar, hein. E AMO o fato de personagens feridos serem sempre os mais interessantes! E a verdade é que eu adoro quando personagens chegam nesse ponto: aquele momento em que tudo dentro deles se parte e algo novo começa a nascer no lugar.
📚 Indicação da Edição
E vamos à Indicação desta edição! Com muita Alegria e ANSIEDADE, anuncio que encontrei a MELHOR LEITURA DO ANO (até o momento!)
É uma fantasia ARREBATADORA que me pegou demais. Eu li em apenas três dias. Três dias, umas 3 horinhas por dia na média! Se tivesse mais tempo, talvez tivesse lido em menos tempo. Depois que comecei a ler depois que acordo, tenho lido muito rápido. Eu simplesmente não conseguia parar a leitura e foi incrível, consagrando Despertar da Chama Eterna como a melhor Romantasia de 2025 até agora!
Se você está procurando uma leitura envolvente, acelerada e com uma fantasia jovem adulta BEM detalhada, mas que você vai tropeçando nas informações ao longo do caminho essa dica vai te pegar de jeito.
Sinopse: Em um mundo colonizado por deuses e governado por seus cruéis e mágicos Descendentes, a curandeira Diem Bellator sonha escapar da vida sufocante em sua humilde aldeia.
O desaparecimento repentino da mãe e a descoberta de um segredo perigoso sobre o passado dela lhe dão uma chance inesperada de se infiltrar no sombrio mundo da realeza dos Descendentes e desvendar os mistérios que sua mãe deixou para trás.
Herdeiro do rei, o príncipe Luther observa cada movimento de Diem, e uma aliança mortal está determinada a recrutá-la para a guerra civil iminente. Em meio a tantos riscos, ela precisará dominar as regras do amor, do poder e da política para proteger sua família – e toda a humanidade.
💡 Por que você vai amar:
✨ Sistema mágico rico: com reinos regidos por duplas de elementos (luz e sombra, pedra e gelo, mar e céu), o livro constrói um universo mágico vibrante e com regras própria.
🧠 Protagonista afiada e teimosa: Diem é o tipo de heroína que age antes de pensar, mas também aprende a observar o mundo ao redor com lucidez emocional e inteligência.
🧨 Trama política e moral complexa: os conflitos não se resumem a bem versus mal. Você vai questionar até onde vale a pena lutar e matar por uma causa.
🩹 Exploração de saúde mental e identidade: os surtos mágicos de Diem levantam debates delicados sobre medicação, hereditariedade e controle, com um cuidado tocante na abordagem.
💔 Relações intensas e feridas: não faltam personagens marcantes, com destaque para Henri, parte aliado, parte dilema.
🌅 E por falar em continuar…
Lá no início da newsletter, a gente falou sobre chegar a marcos e perceber que eles nem sempre parecem tão brilhantes quanto sonhamos. Mas talvez o segredo esteja aí: os marcos importam não pelo que são, mas pelo que nos ensinaram para chegar até eles.
Eu só cheguei às 50 mil palavras porque aprendi a confiar no processo, aceitei o caos dos rascunhos e entendi que, mesmo nos dias mais difíceis, existe uma chama que insiste em arder.
Agora, se você chegou até aqui, muuuito obrigada por me acompanharem nessa jornada de descobertas e retomadas! Que essas dicas caem como uma luva no seu processo de criação!
Nos vemos na edição #007, que sairá dia 22 de Abril!! ✨
senti falta do kabookverso na semana passada kah! é muito bom ler e sentir parte desse mundinho
Karine:
As suas palavras criaram um lugar bonito dentro de mim. Principalmente, porque tenho autismo nivel 2, depressão, ansiedade e TDAH. Eu estava escrevendo sem parar e minha mente e meu corpo estavam pedindo para que parasse, foi por isso que tirei esse tempo de ferias. Eu não sei quando vou retornar. Mas, tem sido um processo otimo de incubadora de ideias e de conehcer a mim mesma e ouvri a minha voz. A cada News sua que leio, eu me identifico com alguma coisa e então ai percebo que não estou passando por isso sozinha. Então, só queria agradecer mais uma vez por sua partilha. Porque saiba que as suas palavras ecoam nos nossos corações e nos conecta ainda mais com as nossas humanidades.